Eu
estava com um conjuntinho estampado de algodão, e a outra com um vestidinho com
babados na ponta. A casa estava vazia – apenas eu e minha amiga esperávamos as
outras permanecendo em silêncio.
Alguém
batia ansiosamente na porta.
–
Della! – Cumprimentou Chloe, entrando na sala de Della, após ela abrir.– Awn...
Vai ter Dance? – Grunhiu ela.
–
Vai, o meu pai comprou esses tapetes pra a gente dançar.
–
Nossa. Legal – Disse Chloe animada. – Onde estão as garotas daqui?
–
Ainda não chegou ninguém – Della nem notava que eu estava ali, hesitante. Chloe
me viu sentada no sofá.
–
Angela! Tudo bem?
–
Tudo – Murmurei.
–
Seu pijama é muito fofo...
–
Obrigada, Chloe – Eu percebi a falta de assunto.
–
Vou colocar meu pijama. Della, qual banheiro posso... Ah, tá – Procurava Chloe
o banheiro, enquanto Della apontava no fim do corredor.
Della
ligou o som, e pôs um CD de pop. A música começou a tocar, dominando o lugar, e
chegavam cada vez mais garotas. Eu ficava cada vez mais por fora, então resolvi
ir ao banheiro molhar o rosto.
Caminhei
até o fim do corredor e entrei em um pequeno cômodo com as paredes ladrilhadas
por pedras brancas e azuis. Abri a torneira e joguei água no rosto, para tentar
espantar o tédio e o sono. Olhei-me no espelho, e eu estava como sempre. Os
cabelos, castanhos e ondulados, estavam meio queimados pelo sol, os olhos num
castanho claro, mais puxado para o verde, o nariz meio arrebitado e as sardas
espalhadas pelas bochechas. Percebi que eu estava com enormes olheiras. Será
que alguém tinha notado? Comecei a procurar alguma base ou corretivo no
banheiro para disfarçar aquelas coisas medonhas embaixo dos meus olhos, mas a
busca foi interrompida por um grito estridente de dor vindo da sala.
Imediatamente
abri a porta e me retirei até a sala, com medo de qualquer coisa que pudesse
ter acontecido. As expectativas de adivinhação não existiam.
Foi
então que me deparei com ela.
Todos
estavam boquiabertos com uma expressão de horror ao ver uma das garotas da
festa esparramada no chão, ao lado de uma poça de um líquido vermelho. Este
mesmo líquido descia de sua cabeça, sujando o seu rosto, que estava paralisado
numa feição morta – sua boca estava aberta e os olhos esbugalhados.
Eu
não esperava essa situação. Estava frente a frente com uma menina morta.
–
Ai meu deus! – Gritavam as garotas, fugindo pela porta da frente.
Eu
não saí; fiquei ali com Della, ligando para a ambulância e para os pais da
garota.
–
Alô? São os pais da Tracey? – Perguntava Della, ligando para o número da
garota, que havia em uma de suas agendas. – Não? Como assim? Não existem?
Ahã... Tá bom, obrigada.
Ela
desligou o telefone e me olhava espantada. Nós duas tentávamos desviar o olhar
da garota cheia de sangue.
Em
alguns minutos de tremedeira, a ambulância chegou e levou a Tracey. Eu e minha
amiga estávamos mudas e não sabíamos o que fazer.
–
Você vai dormir... aqui hoje? – Perguntou ela, assim que a ambulância sumiu de
vista.
–
A minha mãe não está em casa.
–
Tudo bem. Só vou ligar pra minha mãe...
–
Não, Della – Eu a interrompi.
–
Por quê?
–
É melhor contar a ela amanhã. Vamos dormir.
–
Você tem razão... – Suspirou, indo para o quarto, enterrado de colchonetes e
travesseiros para a festa do pijama arruinada.
Ela
me jogou um lençol, e daquele jeito mesmo, nos deitamos no chão, mas sem apagar
as luzes.
Minha
cabeça estava um tormento; não conseguia esquecer a cena que tive a
desagradável chance de presenciar. Precisei de alguns minutos para me
certificar: “Todos estávamos bem, ia ficar tudo bem”, pensei fechando os olhos
para tentar pegar no sono.
–
Angela – Disse Della quando eu quase dormia.
–
Quié...?
–
O que aconteceu com aquela garota?
–
Eu não sei... Mas estou com medo.
–
Eu também.
Dito
isso, nós duas dormimos.
Dia
seguinte acordamos preocupadas, e Della não contou a sua mãe o que havia
acontecido, afinal, quanto menos gente nisso melhor, na opinião da minha amiga
com minhocas na cabeça – Todas as meninas da festa tinham presenciado a
possível morte. Mas eu a forcei a explicar tudo depois da aula, afinal, uma
garota morreu sinistramente no chão da sua sala de estar e você não tem o
direito de saber?
Na
escola, o clima também era sinistro. Algumas garotas choravam, algumas
esbugalhavam os olhos de medo ao ver nós duas, algumas se agarravam aos
namorados, outras fofocavam... Óbvio que nós éramos o centro das atenções,
principalmente a Della, pois a casa era dela, e ela que organizara a tal festa.
No recreio, assim que estava o corredor enorme da escola. O burburinho rodeava
entre as salas, desde a 7ª série até o 2º ano. Apenas os mais isolados ficavam
de fora. Aqueles nerds, pessoas rejeitadas, só por serem diferentes.
De
repente, levei um susto: O Andrew Knight, um garoto meio nerd da minha sala com
quem eu falava raramente apareceu atrás de mim. Foi só falar neles, que um
apareceu. Mas esse era meio exceção.
O
Andrew tinha um cabelo loiro-escuro, que usava meio jogado para a esquerda, e
os olhos de um tom azul meigo, e suas feições eram de um garoto popular, e não
de um nerd. Mas mesmo assim era acanhado, deixado de lado e às vezes admirado
de longe por aquelas que notavam sua ilustre presença no colégio.
Andrew
carregava uma pilha de livros e cadernos e sua mochila aparentemente pesada nas
costas quando me abordou por trás sorrateiramente:
–
Angela, é verdade que a Tracey morreu? – Perguntou. Virei-me para trás e vi o
garoto loiro olhando para mim, esperando uma resposta.
Continua...
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